Dia do treinador, professor reconhecido, mas sofre em silêncio na calada da noite
Uma questão discutível: “Treinador tem participação de apenas 25% nos resultados da equipe”.
por REDAÇÃO - Campinas
Especial: Ariovaldo Izac
Campinas, SP, 14 de janeiro (AFI) - Muricy Ramalho, treinador de futebol que optou por migrar à função de analista de televisão, colocou uma questão discutível:
“Treinador tem participação de apenas 25% nos resultados da equipe”.
Cabe discussão desse e outros assuntos atinentes à categoria, pois esse 14 de janeiro é celebrado como 'Dia do Treinador'.

Cabe, então, avaliar cronologicamente atribuição do treinador com o passar dos anos.
FUNÇÃO DUPLA
Décadas de 50 e 60 era praxe clubes optarem por jogadores com duplicidade de função. Parece desconexo, mas da mesma forma que o profissional escalava o time que entrava em campo, também jogava.
Na Ponte Preta de 1963, Jair da Rosa Pinto era treinador uniformizado de atleta no banco de reserva. Orientava o time de fora e entrava no transcorrer de partidas.
Quando se imaginava que essa simultaneidade de função não mais se repetiria nas últimas décadas, ela se repetiu com Romário no Vasco, Rivaldo no Mogi Mirim e Roberto Carlos no Anzh da Rússia.
COMISSÃO ENCORPADA
Há 60 ou 70 anos, cabia ao treinador remediar nas funções do preparador físico e orientar a boleirada em corridas, flexões, abdominais, etc.

A partir da década de 70 as comissões técnicas começaram a ficar encorpadas com preparador físico, auxiliar-técnico e preparador de goleiros.
Foi o período em que treinadores de equipes profissionais se caracterizavam por repetir fundamentos a quem precisava, procurava melhorar posicionamento do atleta em campo, por vezes decidia trocá-lo de posição e precisava ter discernimento para melhor escolha dos titulares.
HOLANDA REVOLUCIONA
Se o húngaro Bela Guttman era tido como treinador moderno para a década de 50, com passagem pelo São Paulo em 1957, o mundo esportivo ficou de boca aberta, na Copa do Mundo de 1974 na Alemanha, com o revolucionário futebol praticado pela Holanda do treinador Rinus Michels, coadjuvado em campo pelo polivalente Joahn Cruyff.
O mundo se surpreendeu com o carrossel holandês ou laranja mecânica, que por capricho dos deuses dos estádios não conquistou aquele título.
Os personagens europeus citados já faleceram.

DOIS VOLANTES
Foi na década de 80 que aumentou a paúra da treinadorzada para não perder jogos e emprego. Eles colocaram em prática o chamado segundo volante, tornando as equipes mais defensivas, até porque também surgiu o chamado quarto homem de meio de campo, com fixação na ofensiva de apenas dois jogadores.
Claro que, à época, profissionais capacitados como Telê Santana, Valdir Espinosa, Ênio Andrade e Evaristo Macedo jamais abandonaram a ousadia de atacar.
NA MESMICE
No geral, a 'tecnicaiada' ficou na mesmice até a virada do século, quando foi intensificada a influência da escola europeia no futebol brasileiro, com rigorosas marcações, mas deslocações para se ocupar espaços vazios.
O tique-taque do Barcelona, com marcação no campo de defesa do adversário, serviu de orientação para plágio no mundo inteiro, o que mostra a capacidade de invenção dos treinadores.
BEBIDA OU REMÉDIO
Sim, treinadores ganharam valorização até descomunal, mas não basta ao profissional bem-sucedido apenas vastos conhecimentos sobre bola rolando.
Treinador é um administrador de comissão técnica, com capacidade de cobrança de resultados dos comandados.

Treinador é um líder de grupo com capacidade de percepção do ambiente, e contornar discordância de jogadores.
PESO DA DERROTA
Afora isso, por mais que esteja calejado a crítica e pressão de torcedores e mídia, a derrota é um peso difícil para digerir.
São noites em claro no pré-jogo e repete-se no pós-jogo se a derrota se caracterizar pelo amargo sabor que poderia ter sido revertida ou evitada.
Assim, não são raros os treinadores nocauteados pela bebida em troca do sono, ou acalmados por aquele remedinho 'tarja preta'.
É a vida de quem quis sofrer à beira do gramado.

Esta coluna é publicada pela Editoria da Agência Futebol Interior. O PORTAL FUTEBOL INTERIOR é o mais completo site vertical de futebol do Brasil, com duas décadas de existência e que se tornou referência nacional quando se fala em futebol, a paixão nacional. E, totalmente, independente. Acom